Friends, Claque, Ivan Pavlov. E eu com isso!?

Se você tem menos de 40 anos, recomendo que convide algum familiar mais velho para tirar dúvidas ou ler junto ao computador com Google aberto para que algumas ideais possam ser entendidas.

Apelo ao santo Millor Fernandes (lembro que era para ser Milton, mas o escrivão fez alguma trapaça) quando diz que livre pensar é só pensar. Vou mais para lá e digo que livre pensar pode incluir dizer também. Afinal, esta máxima não foi só pensada, foi cravada no papel e imortalizada pela lucidez.

Voltei a encontrar aquele russo (supracitado) em aula sobre comportamento do consumidor e lembrei-me das lições de psicologia do desenvolvimento da UNB, por voltas de 84 ou 85. Ratos, reflexos, condicionamento, behaviorismo e outros bichos que nos fazem lembrar os filmes de ficção dos anos 60 e 70. Hoje, percebo que a ingenuidade daqueles filmes era em algum momento bastante produtiva pelo fato de nos instigar a imaginação, o que não ocorre com os filmes hoje produzidos totalmente em computação gráfica.

Sempre li bastante gibi (recorrentemente, o Recruta Zero em algumas edições que tenho do Gibi Semanal produzidos nos anos 70). Em umas das histórias, havia um show humorístico de auditório no quartel Swamp (pântano – só descobri anos depois), onde um soldado franzino portava uma placa com a palavra applause.

Como as pessoas não estavam rindo muito, o General Durindana (chefão preguiçoso, tarado e inútil) resolveu trocar o soldado por outro monstruosamente forte. Resultado: o show ficou muito mais engraçado!

O fato é que, com a televisão a cabo, começamos a ser bombardeados por novas formas de comer TV. Não fosse o hábito de assimilarmos sem censura o que vemos, poderíamos perceber o quanto sofremos em aprender novas formas de rir.

Adorava o seriado Friends. Eu e o mundo! Não era à toa que alguns personagens chegaram a ganhar US$ 1 milhão por episódio. Porém, comecei a perceber sistematicamente risadas da claque onde não achava a menor graça e em pouco tempo estava começando a achar graça naquelas situações. Fiquei preocupado.

Para concluir, sem alarmismos, acho que vou ter mais cuidado para rir das séries americanas. Será possível que um dos nossos mais importantes sintomas de prazer é sempre condicionado? Nem parece… Bom, se for mesmo, vou fazer muita força para continuar rindo à brasileira.

George Leal Schafflor Mello é publicitário e professor universitário

Publicado no Jornal Correio Braziliense em: 12/08/2007

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