A qualidade da propaganda

Por um dever de ofício, resolvi assistir, com um olhar de crítica, a televisão durante algumas noites para ver de perto a qualidade do que se produz e que se veicula em matéria de propaganda, atualmente, nesse meio de comunicação. Fiz isso porque constantemente sou cobrado por estudantes de comunicação que chegam ao absurdo de acreditar que tudo de bom e de ruim, principalmente de ruim, que é veiculado na mídia, é serviço de agência de propaganda. Nós sabemos que não é assim, mas eles não sabem.

Confesso que em termos de qualidade e conteúdo vi pouca coisa boa, bem pouco para justificar os custos de produção e veiculação, pagos pelos anunciantes. Não vou citar as emissoras que assisti e muito menos as peças de boa qualidade, porque fiz questão de não procurar saber quem as fez, para não cometer injustiças e também, porque, acredito sinceramente, que fazer trabalho sério e de qualidade, não é mais do que nossa obrigação, como também é nossa obrigação saber escolher o canal mais indicado para veicular o que fazemos.

Em outras palavras se V. fizer um filme de alta qualidade não vai ter coragem de veicular numa televisão de baixa qualidade e vice versa.

O que vi, em três noites, foi muito anúncio ruim, medíocre, muitos filmes e vts. com a cara daquelas coisas que são feitas pela cabeça de amadores, verdadeiros primatas em matéria de comunicação, muitas vezes o próprio anunciante, que por ser o dono do dinheiro se reserva o direito de teimar em fazer certas excrescências que eles mesmos chamam de bolações.

Até parece que voltamos ao tempo em que só existiam os corretores de anúncios.

São anúncios de produtos para limpeza de pele, alisamento de cabelo, remédios para dor de barriga, vitaminas, fortificantes, prisão de ventre, fígado, cólico as mais diversas, emagrecimento, nossa… tem até um que diz que mulher perdeu vários quilos na primeira semana de uso.

Ora, considerando que o ano tem 52 semanas, se aquela senhora continuar tomando o famigerado produto, emagrecendo digamos, dois quilos por semana no fim do primeiro ano terão perdido 104 quilos e com isso, vai, de fato, não apenas emagrecer, mas vai, sim, é desaparecer. O que é um tremendo absurdo é que se trata de produtos que deveriam, no mínimo, ser obrigados a declarar, nome do fabricante, endereço, nome do farmacêutico responsável e outros dados de segurança. E o que é ainda mais grave é que nesses casos, parece não existir a ação daqueles órgãos que vivem proibindo e culpando a propaganda pelos males do mundo.

A péssima qualidade do que se vê na televisão é preocupante, porque infelizmente, é em número muito maior do que as coisas de boa qualidade e isso me lembrou  um trecho de literatura de cordel, que não sei se é de Octacílio ou de Dimas Batista, que indignado com a perda da pureza e com os rumos que tomava a sua literatura de cordel, pontificou:

“Basta um cabra não ter disposição,

pra viver do serviço de alugado.

Pega a viola e bota ela do lado,

compra logo o romance do Pavão,

a peleja do Diabo e Riachão,

sai pro mundo a gabar-se em toda parte

e a berrar por dez réis no “mei” da feira.

Parasitas assim, dessa maneira,

é que estão estragando a minha arte…”

Meus amigos, assim como os estudantes de propaganda e marketing precisam ser esclarecidos para não estragarem a nossa arte, nós e os anunciantes, principalmente nós e os anunciantes, também precisamos.

Humberto Mendes – VP Executivo da Fenapro

Publicado no Correio Braziliense em: 13/07/2008

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